Autor: Luis-Miguel Romero | junio 27 2022 Tradução: Vanessa Matos https://doi.org/10.3916/escuela-de-autores-179 Um dos elementos sine qua non de qualquer publicação científica é a revisão. Há quem diga que uma revista ou congresso é de qualidade não necessariamente por sua posição nos índices de impacto internacional, mas pela eficácia de suas revisões (processos avaliativos), pois ao final cumprem […]

Autor: Luis-Miguel Romero | junio 27 2022

Tradução: Vanessa Matos

https://doi.org/10.3916/escuela-de-autores-179

Um dos elementos sine qua non de qualquer publicação científica é a revisão. Há quem diga que uma revista ou congresso é de qualidade não necessariamente por sua posição nos índices de impacto internacional, mas pela eficácia de suas revisões (processos avaliativos), pois ao final cumprem a função de gatekeeper ou porteiro com base em sua especialização e experiência.

A tarefa do revisor (também chamado de “parecerista” no Brasil) deve ir além de ser um juiz que, protegido pelo anonimato, rejeita ou destrói obra de alguns autores. Com efeito, o revisor, longe de ser um inquisidor, deve exercer um papel pedagógico em que, sem ter de aceitar tudo o que lhe vem à cabeça, permite aos autores que, com as suas observações, possam melhorar a investigação e/ou o manuscrito.

No entanto, a tarefa do revisor geralmente não é recompensada pela carga de trabalho envolvida na leitura crítica do manuscrito, na busca e na referência de estudos que ajudem a melhorar o estudo em revisão e na redação de observações de maneira pedagógica. Algumas editoras como MDPI ou Frontiers – período pax publicatio em ANECA – promoveram o reconhecimento dos revisores com vouchers de desconto da APC. Outras -como Emerald Publishing ou El Profesional de la Información – permitem aos revisores acesso aberto por um período de tempo a todos os artigos de suas revistas, enquanto no caso da Revista Comunicar, e algumas revistas da PlatCom, como Index.Comunicación, Revista Latina de Comunicación Social e a Revista Mediterránea de Comunicación reconhecem anualmente seus melhores avaliadores, tanto em quantidade quanto em qualidade.

Embora seja verdade que a inclusão do trabalho de revisão científica nas escalas dos sistemas de avaliação de docentes e agências de qualidade tenha estimulado mais pesquisadores a quererem integrar o corpo de revisores de periódicos de alto nível –  graças também ao registro de revisões realizadas por Publons (Clarivate Analytics) de maneira mais facilitada, também é verdade que ainda há um longo caminho a percorrer no reconhecimento deste trabalho, tanto pela maior parte das publicações e congressos, como pelas agências de avaliação, uma vez que uma revisão cuidadosa e bem feita não requer apenas tempo, mas também conhecimento atualizado sobre um tópico e experiência em pesquisa.

A anomia e o atraso nos processos editoriais: em busca de uma solução

Os editores de revistas científicas e alguns editores de edições especiais podem atestar a dificuldade de encontrar revisores comprometidos para colaborar nesses processos. No caso da Revista Comunicar, existe um banco de 1058 pareceristas de 54 países, o que permite que cada artigo que passe no primeiro processo de revisão inicial no conselho editorial seja enviado para até 12 pareceristas, podendo atingir uma média entre 4 e 6 revisões efetivas por artigo. No entanto, isso, longe de ser a regra, é uma exceção.

Na maioria dos casos, os eternos atrasos nos processos editoriais são devidos aos revisores que não respondem ou – no melhor dos casos – se recusam a fazer a revisão. Isso significa que os editores devem enviar o manuscrito para outros revisores, dar-lhes um tempo razoável para responder, e assim por diante ad infinitum, o que é um obstáculo ao cumprimento dos tempos de revisão. Isso acaba resultando, portanto, na perda de validade e atualidade da pesquisa, e até mesmo em artigos que acabam sendo rejeitados depois de muitos meses -ou anos- e, como tais, acabam condenados a não poder ser enviados para outra publicação porque o conteúdo se tornou obsoleto.

Além de ser um compromisso ético de todo pesquisador ajudar as publicações científicas e nossos colegas com revisões bem feitas e pontuais -ou pelo menos rejeitar rapidamente o convite-, não é menos verdade que algo está errado com esta fórmula, pois o incentivo é, na maioria dos casos, nulo ou escasso. Aqui podemos entrar no eterno debate sobre se os periódicos devem pagar revisores ou se as agências de avaliação do corpo docente devem dar a esse papel um reconhecimento mais significativo.

Ainda que a fórmula do voucher de desconto APC implementada, entre outros, por MDPI ou Frontiers, tenha sido eficaz no caso espanhol – enquanto durou a pax publicatio na ANECA -, este sistema é útil desde que o editor tenha muitos periódicos indexados que tornem desejável ter um incentivo nessa “conta”. Portanto, poderia ser um método que grandes editoras como Elsevier, Taylor & Francis, Springer, Wiley ou SAGE poderiam implementar. No entanto, gerar uma mudança nas políticas dessas editoras a partir de uma reflexão umbilical ibero-americana não é apenas um exercício trivial, mas utópico.

É, portanto, uma análise menos ilusória mudar o sistema “de dentro para fora”. Isso significaria dar mais peso às avaliações nos processos de credenciamento do corpo docente, ou melhor, nas avaliações contínuas, porque esse sistema de avaliação de pesquisa e transferência – mais inovador, mas não menos polêmico- mostrou algo: ele serviu de incentivo à produção, tanto que na Espanha lhe deram um nome: “efeito ANECA” ou “efeito CNEAI”. No caso brasileiro, a agência que norteia os índices de avaliação de periódicos é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ligada ao Ministério da Educação. A CAPES publica, a cada avaliação dos programas de pós-graduação do Brasil, também uma tabela classificatória de pontuação para livros e periódicos (Qualis Capes).

Rafael Repiso, Daniel Torres-Salinas e Ignacio Aguaded, neste artigo, defendem a inclusão da gestão editorial como mérito de transferência, apontando que o sistema universitário espanhol não incentiva esse trabalho e, aproveitando-se de boas intenções – bem como de desordem no que se refere à apuração do mérito de transferência, apresentam bons argumentos para que este trabalho seja pelo menos reconhecido nestas avaliações.

Na mesma linha, penso ser necessário fomentar o debate sobre se as resenhas também devem ser consideradas mérito de transferência, especialmente entendendo o papel pedagógico que os revisores devem ter a partir de seu conhecimento e expertise científica perante outros pesquisadores e publicações, o que englobaria um plano importante e transcendental que daria sentido -e incentivo- a esta atividade, fechando o reconhecimento do trinômio: autor (mérito de pesquisa), revisor e editor (méritos de transferência).

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